Os meliantes surgiram de súbito, abriram a porta de seu Chrysler e dispararam à queima-roupa, uma cena assistida pelo filho, que chamaria pela polícia instantes depois, enquanto o artista tentava fugir, até a viatura embater num obstáculo metros adiante e perder a vida. A polícia já deteve quatro presumíveis assassino, entre 31 e 35 anos, nomeadamente, Sifiso Mlanga e Julius Gxowa, de nacionalidade sul-africana, e os moçambicanos Thabo Mafoping e Mbofi Mabe, cuja sessão de discussão em tribunal deveria acontecer no fim de Outubro, de modo a permitir-lhes a constituição do suporte legal a que têm direito.
No domingo, 28/10, Lucky Dube, que deixa viuva, Zenale, e sete filhos, foi a enterrar em cerimónia restrita à família e amigos mais chegados, na sua fazenda, situada em Newcastle, província de KwaZulu-Natal. O enterro entretanto foi alvo de polémica, já que, para cumprir aquilo que a família considera ser o último desejo do malogrado, o funeral deveria ser algo restrito e simples; ou seja, a participação de milhares de pessoas de todo o mundo limitar-se-ia ao velório, reservando-se os familiares e amigos chegados o privilégio de acompanhar Lucky até à sua última morada, o que, embora legítimo, é desproporcional à dimensão deste terapeuta do reggae contemporâneo.
«Devemos continuar a agir em conjunto como um povo que combate esta terrível onda de crime, que tem tirado a vida a demasiados sul-africanos», disse o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki.
Apesar de nunca ter estado em Angola, a morte Lucky Dube enlutou admiradores da sua música, amantes do Reggae e os amigos do povo-sul africano de modo geral. Amplamente anunciada pela imprensa angolana, a notícia teve como reacção mais sonante a marcha organizada pelo Movimento Rasta Fari em Luanda, a 26/10.
«É importante rendermos homenagens as pessoas, como ele, que lutaram pelo bem-estar social, e condenar estes tipos de acontecimentos criminais, porque só assim conseguimos demonstrar para as outras pessoas que estamos unidos em laços de irmandade», disse à Angop o ancião da comunidade Rastafari de Angola, Faia Congo.
O relatório da polícia enfrenta ainda um implícito inconformismo quanto à ideia de se tratar (só) de um assalto de ladrões de carro, já que, para além de não ter sido levada a viatura, Lucky Dube é a segunda celebridade abatida em menos de um mês. No passado dia 15/10, o actor Patrick 'Kid' Mokoena, que se notabilizou na série televisiva 'Soul City', foi também assassinado a tiro num bar na zona de Jeppe, perto do centro de Joanesburgo.
A criminalidade é um gritante ponto fraco da governação do país que se ressente ainda do espectro do Apartheid, regime baseado na segregação etno-tribal e na supremacia económica, cultural e política da minoria branca, tendo sido o uso da violência recurso do povo negro na luta pelo direito à dignidade. E a insegurança poderá afugentar turistas e investidores quando a África do sul albergar o Mundial de Futebol em 2010.
De acordo com o site brasileiro www.primeirahora.com.br, citando fontes oficiais, a África do Sul regista mais de 19 mil assassinatos e 400 mil ataques por ano. A polícia sul-africana registou aproximadamente 20 mil assassinatos no período entre Março do ano passado e o primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 2,4 por cento em comparação com os índices do ano passado. São também tidos como altos os número de estupros e de roubo de carros(Reuters).
Perfil
O nome Lucky foi-lhe atribuído pela mãe por ter nascido em condições difíceis de saúde, a 03/08/1964, em Ermelo, no Transvaal Leste, hoje Mpumalanga. Cresceu sob cuidado da avó, enquanto a “mãe solteira” Sarah, tinha de trabalhar. Sua infância foi marcada pela miséria e pelo Apartheid.
Iniciou a cantar em bares na sua cidade natal e na igreja, e logo fez parte da banda Love Brothers, na qual tocava mbaganga durante dois anos. No início dos anos 80 decide abraçar então o estilo Reggae.
Criança ainda, trabalhou como jardineiro em casa de uma família branca, o que viria abandonar face as humilhações e pouca remuneração, optando por estudar. E na escola forma a sua primeira banda,'The Sky Way Band'. Desde a gravação do primeiro álbum em 1986, "Rastas Never Die," sufocado na época pelo poder da sensura, até atingir o apogeu, Lucky manteve a humildade, o que lhe permitiu estar sempre perto do seu povo. Lucky Dube foi o primeiro artista negro na África do Sul com a música a tocar numa estação de Rádio.
Ao contrário do estereotipo de músicos, especialmente do estilo Reggae, Lucky Dube não fumava marijuana (liamba), não bebia, muito menos permitira integrantes da banda consumirem álcool antes do espectáculo. A sua mensagem aborda questões políticas, sociais e pessoais – coisas que jogam importante papel na vida de qualquer cidadão. Uma vez foi questionado sobre o que o inspirava, ao que humildemente respondeu: «As pessoas! Olhar as pessoas, observar movimentos e o que fazem, em situações e experiências da vida real de pessoas» (blackwomanineurope.blogspot.com.
Publicou 21 álbuns em Zulu, Inglês e Afrikaans, num período de 25 anos, e conta ainda a sua trajectória com 20 distinções pela voz, música e vídeo, chegando mesmo a ser condecorado cidadão honorário do Estado de Texas, EUA, a 27 de Maio de 2007.
«O amor e o respeito deviam andar de mão em mão; é impossível ter amor por alguém se não o respeitas. Com respeito, o mundo pode ser um local melhor para se viver», era a forte convicção de Lucky Dube quando lançou o seu último álbum “Respect”.
Por: Gociante Patissa (www.angodebates.blogspot.com)
1 comentário:
lucky dube vc é mesmo um poéta, é mesmo uma pessoa especial, e é por isso que vc sempre estará em nossos corações, ti amamos muito, nunca iremos ti esquecer. Pesso a Deus que faça justiça pela sua morte e que os culpados paguém pelo o que fizeram, por que eles não tem noção do mal que fizeram. Eu pesso justiça, justiça, justiça...sempre e que Deus nos proteja dessas pessoas ruim.
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