sábado, 13 de junho de 2020

Dê suas mãos às comunidades!


Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Hanha do Norte. Pertencente a comuna sede, a Hanha do Norte é administrativamente uma porção da coordenação da Zona 10, cuja capital é a localidade do Kulañu(Kulangu). Porém, seguindo o curso da estrada asfaltada que liga a Hanha e o Kulañu, o percurso pode durar aproximadamente sessenta quilômetros. Na verdade há uma outra via, talvez um corta mato, que dista quase quinze quilômetros da cede zonal, mas que não possibilita o trânsito de viaturas, sejam elas ligeiras ou pesadas.

Com uma população estimada em 4 mil e 154 habitantes,  a Hanha apenas pode lamentar-se do seu potencial turístico, para mencionar, a famosa Praia da Jomba, bem juntinha a antiga fábrica da Água da Jomba comercializada no centro da cidade do Lobito. Esta praia com a sua água, é das mais límpidas da província de Benguela. Apesar de o acesso ser hoje um verdadeiro teste para as viaturas, por isso, orienta-se viaturas com tracção às quatro rodas, o zigue zague da descida desde o cume até ao balneário é convidativo, entretanto mais seria se asfaltada a estrada estivesse, assim como era no tempo colonial. 
  
Na Hanhá, a agricultura, a pesca e criação de gado configuram a lista das actividades principais dos moradores. Por exemplo, o rio Kulañu que serpenteia a aldeia sede, dá vida às variadíssimas culturas próprias daquela terra. E então o gesso envolto às montanhas traz imagens em ação de uma Hanha cobiçada por visionários que com a sua responsabilidade social investiriam numa escola do ensino médio técnico e profissional que formasse exploradores minerais. E o gesso seria sim, o ouro daquela população.

Ao visitar a Hanha dois agentes de socialização chamam a atenção, a Escola BG nº 2019 e a Associação Comunitária Tuyula Lomunga. Esta última, fundada em 2016 é produto da responsabilidade social da empresa Odebrecht a quando da construção da Refinaria do Lobito. Contudo, a associação desempenha um papel preponderante na economia da Hanha, pois, para além de gerir uma moageira, a associação produz artesanalmente um sabão de excelente qualidade.

Portanto, a Hanha não deixa de fazer parte de um conjunto de potenciais gigantes economicamente adormecidos nessa Benguela de Angola, visto que a sua estrada reclama por reparações, a corrente eléctrica continua a ser coisa do outro mundo e a água canalizada para o consumo doméstico ainda é miragem.

Visite a Hanha do Norte!

“Eka Lietu Vo Mbala”.        




Texto: Lofa Kakumba
Foto: Samuel Sambaly
Colaboração: Joaquim Kulembe
                       Martinho Satchaka

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O jovem de manhã está na criança de hoje


O dia a dia de todos nós ganhou uma nova imagem, crianças deambulando de um lado ao outro não apenas nas ruas do centro da cidade, mas também nas ruelas dos bairros da periferia da cidade. O número é cada vez crescente.

Procurando o quê? Latas, arames de metal, retalhos de tecidos ou caixas de papelão para exercitarem a sua inteligência artística, como foi durante a infância de muitos entre nós?

Apesar das lojas do povo nos dias do partido único, os brinquedos não eram para todos do povo, ou seja, de tão escassos, apenas serviam para a decoração das salas de estar. Mas, no entanto, a natureza da brincadeira na criança não esperava pelos brinquedos das lojas do povo, aliás, os mesmo também somente chegavam ás vésperas do natal. E parecendo que não, quanto mais distante do mar se estava, mais lunático era o sonho do brinquedo industrializado.

A criatividade levava as crianças na procura, onde quer que fosse, de vários objectos para serem transformados em brinquedos de carros de latas e de fios, bonecas de panos, casas de barro, arcos de jantes e tanto outros. Era sim, o motivo da criançada nas ruas.

Diferente do ontem do partido único, hoje, há mais crianças nas ruas, até porque a população angolana cresceu, mas não é a procura de meios para criarem brinquedos. As crianças estão nas ruas a venderem tomate, cebola, pimenta, feijão e muito mais. Elas cruzam bairros, escalam montanhas, esquivam carros e enfrentam assaltantes. Quantos quilômetros elas percorrem ao dia?

Como cresce o número de crianças nesse trabalho que explora a infância das mesmas, reflectir sobre a situação econômica e financeira dos lares angolanos deve ser o exercício constante entre os governantes e os súbditos do governo.

Visualize a seguinte realidade angolana: os acidentes rodoviários são a segunda maior causa das mortes. Pelo que se sabe, maior parte da população angolana é jovem, naturalmente uma maioria economicamente activa e que é utente das estradas, por isso, não é difícil calcular que um grande número de jovens está a morrer nas estradas de Angola, provavelmente a procura de garantir o pão de cada dia. Portanto, talvez haja muita criança no trabalho de venda ambulante que viva sem seu pai ou sua mãe, senão mesmo sem os dois progenitores.

O trabalho infantil está a tomar proporções incontornáveis aos olhos de muita gente boa!   



   


Texto: Lofa Kakumba 
 Foto: Dino Calei

terça-feira, 2 de junho de 2020

Juventude - a manutenção da soberania


A soberania tem sido a bandeira em defesa por qualquer Estado nesse planeta de muitas terras e muitos céus, pois a submissão apesar de necessária resume-se no facto de, na maioria de vezes: "a lei ser como a teia de aranha, que prende os insectos mais fracos e os mais fortes conseguem rompe-la". Portanto a disputa dos poderosos com os seus poderes, sejam financeiros, humanos, naturais, acadêmicos, históricos e tantos outros, acabam ditando o poderio de um Estado.

Como o Estado é hipoteticamente a conjugação incondicional de elementos como, o povo, o território e o poder político, também não seria irracional pensar que a manutenção do estado e a sua soberania dependesse dos mesmos elementos.

A racionalização dos seus recursos e a capacidade de prever e satisfazer necessidades dos seus cidadãos levou alguns E stados à condição de poderosos. Se tal condição é temporária... Depende da luta de cada estado, entretanto, assiste-se um cenário mundial de estados menos poderosos que alguns.
Estados menos poderosos significam menos soberanos? A abordagem sobre a soberania dos estados pode gerar grandes discussões baseadas em vários pontos de vistas, mas o subaproveitamento de um dos elementos da trindade estatal ou estadual poderia condicionar a soberania de um estado. Por exemplo, a pobreza no seio do povo fragiliza o Estado.

Como acreditar na soberania de um estado cujo povo não tem o que comer? Não é por acaso que entre irmãos, o mais velho vendeu simbolicamente ao mais novo a primogenitura ao preço de uma refeição, reza a bíblia.

Portanto existem aspectos que podem vulnerabilizar a soberania do Estado. Entrementes, qualquer fraqueza no desempenho dos elementos do Estado, quer dizer, se o território não é explorado racionalmente, se a vigorosidade da juventude não é nem tida muito menos achada e se a experiência dos experientes não é relevada aos novos desafios do saber fazer, estar e ser, a dimensão política do homem ou da mulher é frágil. E conseqüentemente quebra-se o sentido de complementaridade da trindade estatal.

Quando o Estado não rentabiliza a juventude, o mesmo torna-se inconseqüente, agudiza a sua condição de exclusividade na história dos seus súbditos relativamente ao tempo e espaço, pois a virilidade também é um recurso não renovável. Veja que quem pode hoje estraçalhar com forças rochas, não o poderá fazer com a mesma vigorosidade depois de cinco décadas de vida. Também é facto que quem tem recursos encontrará necessariamente uma forma e um lugar para usar o que tem em sua posse. Essa realidade é bem válida para a juventude, pois se ela não for bem aproveitada, gastará o que demais precioso tem com escórias.

Contudo, uma juventude não pode por si mesma deixar de pensar e de agir, porque a juventude é e será sempre o reflexo dos adultos do seu tempo.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Projecto "Eka Lietu Vo Mbala"

Participe da implementação do primeiro Banco Alimentar em Benguela!
Estamos localizados no
Lobito, bairro Santa Cruz,
na rua do Colégio Público doI ciclo 
Rei Mandume.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

AINDA RESTAM MANHÃS!


Manhãs que nos levantarão desse tédio, e nos reabrirão o portão da vida, sem as luvas do medo nas mãos
Manhãs que nos devolverão a enxada do labor, e que nos enxugarão do rosto o suor, sem a paranóia da água com sabão
Ainda restam manhãs que nos trarão a quentura daquele abraço, algemado na estúpida ânsia do tal de confinamento
Restam aquelas manhãs,
molhadinhas no chuvisco bucal de beijos que já se fartaram de tanto jejuar
Ainda restam passeios de mãos dadas à beira mar, descalçados na morna conexão entre o cintilar da areia e o piscar do sol
Restam chãos riscados no compasso gingar de corpos bailarinos, arrepiados na celebração do funeral desse vírus papão
Ainda restam lembranças por partilhar, lágrimas amargas por enxugar, feridas abertas por cicatrizar, e peitos apertados por suspirar!

Sim, ainda restam manhãs!


Por: eUzInHo
(facebook: Edmundo Francisco Francisco)

Kota Zé e a Vida


Enquanto distribuíamos kits alimentares providenciados pela administração da Catumbela, nas periferias fronteiriças entre o Lobito e a Catumbela, encontramos o senhor Zé Maria que vendia tudo do nada que tinha. Obviamente nos sensibilizou e não resistimos à necessidade de deixar com ele um kit, mesmo não fazendo parte do cadastro das famílias vulneráveis.

Podemos concordar que fé e esperança podem manter viva a alma, mas resistir à fome é para além de mental, um exercício físico. Daí que contam os dias para um ser vivo manter-se sem alguma alimentação, aliás, até porque para se alimentar precisa-se engenhar estratégias de aquisição dos alimentos. Alguns o chamam emprego, outros fonte de receitas ou negócios, mas na verdade todo mundo trabalha, pelo menos.


A vontade de trabalhar, que nos parece natural ao ser vivo, impele-nos a labuta, não é à toa que nos mandaram ter com a Formiga para algumas aulas de organização do trabalho, e também sentenciados com as seguintes palavras: “do suor do teu rosto comerás pão...”

Talvez seja essa sentença que desestimula Zé Maria com as suas mais de sete dezenas de anos vividas, por enquanto, a não enveredar em caminhos menos dígnos para encontrar o que comer, sujeitando-se à venda de tudo do nada que tem.

Imagine em pleno século XXI alguém produzindo adobes para vendê-los em zonas urbanizadas. Ele está trabalhar, mas em algo que não tem clientes nas zonas urbanas há mais de duas décadas. É um negócio do outro século para uma certa elite. Sim, o kota Zé Maria vende artigos do século passado e desconhecidos pela maioria dos consumidores impulsivos dos dias de hoje. Entanto fazia parte dos produtos à vendas na bancada do kota Zé cassetes vídeo que funcionam apenas num deck ou leitor VHS, hoje, substituídas por discos compactos e seus respectivos leitores VCD, DVD, sem nos esquecermos dos vários periféricos digitais para vídeos e áudios que a informática proporciona. Quem mais compraria uma cassete vídeo? Entenda-se aqui que naquele momento ele vendia tudo do nada que tinha, pois a esperança e a fé se encarregariam do resto. O resto pode ser a comida para o seu jantar logo mais.
Angolanos e angolanas na condição do kota Zé há em números grandes e espalhados por essa Angola. Estamos entre os 12 e 13 milhões de angolanos vivendo uma pobreza extrema.


O projecto "Eka lietu vo mbala" da AJS e parceiros já cadastrou o kota Zé Maria para constar entre as quinhentas famílias que se beneficiarão da assistência social e humanitária, residentes nos bairros periféricos do Lobito e da Catumbela. E você pode ser o financiador de uma dessas famílias através da sua doação de bens ao banco alimentar. Conheça mais do projecto! 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Campanha dar Vida às comuinidades



AJS e parceiros levam a cabo uma campanha para a criação de um banco alimentar para apoiar com bens alimentares às famílias vulneráveis nas periferias das cidades do Lobito e da Catumbela.

A campanha está enquadrada no projecto de assistência humanitária "EKA LIETU VO MBALA", que pretende apoiar cerca de 500 famílias em situação de extrema vulnerabilidade social. Comprometa-se com o banco alimentar.

Vamos ajudar quem mais precisa, contamos com você!..

NOVO MERCADO INFORMAL DO LOBITO EM ZONA DE RISCO

As mais de sete dezenas de mortes assistidas no dia 11 de Março de 2015, nas cidades do Lobito e da Catumbela, causadas por fortes correntes de águas[chuvas] que arrastaram naquela mesma noite várias casas situadas junto dos condutores e colectores naturais das águas das chuvas, cujas culpas foram imputadas aos próprios mortos pelas Administrações Municipais, continuam, cinco anos depois, a atormentar os sobreviventes daquele trágico incidente.

O argumento de que as populações terão construído ao longo do tempo em zonas de riscos (ZR), talvez tenha servido de balsamo para os gestores públicos, entretanto, pouco se fez para mitigar tal realidade. Até parece que se espera que passe meio século para que se torne um facto cientificamente histórico, e dele retirarem as lições necessárias à aprendizagem, pois se diz por aí que “um povo que não conhece a sua história está condenado a repetir seus erros”. Mas é também verdade que o tempo não espera pelos pressupostos científicos e por isso, a vivência acompanha a dinâmica do mesmo.




A construção em Zonas de Riscos tornou-se polêmica, gerou debates, discriminou munícipes. 



Acredita-se que tal situação tenha até feito doentes, mas responsabilização para as Administrações, organismos que têm o poder de conceder terrenos, fiscalizá-los e tudo mais, niente!  Portanto, a imunidade que assiste às instituições estatais e seus respectivos gestores, mesmo quando detratam e atropelam o interesse público, não permite “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”. Tal é facto que, ainda assiste-se hoje, a Administração do Municipal do Lobito a desenvolver obras em Zona de Risco para a implantação do novo mercado informal.

Em decorrência do Estado de Emergência, na sua primeira fase, a Administração Local destruiu dois mercados de referência, o Chapanguele, que faz a fronteira entre as partes baixa e alta da cidade que por sinal é o maior entre todos e o Compão, situado bem no centro da cidade. Na escassez de espaços vagos, a Administração indicou um terreno baldio situado no bairro do São João do Lobito. Porém, o bairro São João já não tem a sua estrada, parte do troço Africano – Catumbela, há mais de vinte anos. O terreno em entulho para o respectivo mercado está a ser feito na zona onde se recolhem as águas das chuvas que vêm da zona alta da cidade e que ao longo da história de vida do São João, acabaram soterrando parte das residências e estabelecimentos comerciais por lá existentes. Portanto, a viabilidade do terreno da nova praça pode até ser política, mas representa um risco econômico, financeiro, social, geográfico e demográfico.  

Ainda vamos só proteger as vidas das pessoas prevenindo-as do mal, afinal gerir também é prever, né! 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Lavemos as Mãos


No âmbito da campanha “Lavemos as Mãos”, a Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS) procedeu, no dia 12 de Maio de 2020, a instalação de mais um barril para a lavagem das mãos com água e sabão, no bairro Santa Cruz, concretamente no Caposto, localidade pertencente à Zona 4 do município do Lobito.

A instalação de barris com água e sabão nas comunidades é uma iniciativa da AJS e da associação C.C.C.C(Comunidade de Convicto Compromisso com a Cidadania), que conta com o apoio da empresa Soba Catumbela. A iniciativa teve o seu lançamento formal no dia 23 de Abril de 2020, no bairro Alto – Liro.

A lavagem constante das mãos com água e sabão faz parte da lista de procedimentos e comportamentos recomendáveis na prevenção contra a infecção da Covid – 19. É por isso, que daquela localidade recebeu com satisfação a iniciativa. Para além do Soba do bairro, também estiveram presentes ao acto de entrega do barril membros da comunidade e responsáveis de instituições comunitárias e juvenis, que se comprometeram em cuidar da manutenção da campanha “Lavemos as Mãos”, na comunidade da Santa Cruz, pois a cidadania é resultado permanente de comunicação e educação.



domingo, 3 de maio de 2020

O Vírus chinês e o seu impacto


A notícia sobre a existência de um vírus sem controlo tecnologicamente possível e muito letal à vida humana espalha-se pelo mundo todo. Igual a galinha que “grão a grão enche o papo”, o vírus chinês, que por conta da OMS passou a ser conhecido oficialmente por novo coronavírus, causadora da COVID, manifesta-se inicialmente na China em finais de 2019 e, em menos de mês toma conta de mais países na Europa. Mais um país na América, outro em África e mais uns tantos e tantos a uma velocidade rápida, o mundo todo se infecta do vírus e consequentemente as suas mortes em números assustadores.

O mundo se recolhe. E enquanto se pensa na cura do “inimigo invisível” como passou a ser estranhamente chamado, entre as soluções emergentes para diminuir os estragos mortais da COVID – 19, os países começam a cancelar os contactos com a raiz da pandemia, a China. Afinal já é tarde demais, e porque não são só os chineses que andam, cada país começa a recolher os seus de lá onde se encontravam, China, Cochinchina e tudo mais.

Para muitos países o Estado de Emergência é convocado bem às pressas para afigurar à lista de soluções do combate à COVID – 19, um pouco depois da implementação estratégica por algumas nações da chamada quarentena que para uns, também quarentona. Mais no bom português falado e escrito ao rigor é mesmo QUARENTENA. E como a culpa não morre só, a quarentena pariu a imperativa medidas e orientações de segurança preventiva #Ficaemcasa(campanha fica em casa). Também por orientação médica, a lavagem constante das mãos com água e sabão, a eliminação dos beijos, abraços e visitas, tal quanto o distanciamento entre pessoas com um limite mínimo de metro, passaram, por recomendação, a fazer parte da dieta do dia a dia, enquanto formas de evitar, principalmente, o contágio comunitário da pandemia.

Portanto, o Estado de Emergência é definitivamente o grande remédio para levar cidadãos e cidadãs à observação e cumprimento das orientações médicas. Por isso, em Angola, o Presidente da República através de um decreto, anuncia a entrada em vigor do Estado de Emergência com as suas medidas de restrições. Competência sua ou não, mas a verdade é que foi o PR a decretá-lo.   

Compreendido por uns, ignorado por outros, o Estado de Emergência e as suas restrições deixou a céu aberto um conjunto de realidades pouco esperadas: que não devíamos nos mentir, África não é Europa e por isso, as medidas restritivas adoptadas deviam ser bem pensadas e não imitadas; também deu para perceber que afinal o Estado angolano não é um Estado de providência, pois na hora da providência tudo ficou escuro; ainda constatou-se que a economia angolana e a situação social dos angolanos estão significativamente dependentes do mercado paralelo; novidade ou não, no entanto, grande número dos angolanos e angolanas vive no limite da extrema pobreza, pois garantem a refeição do dia no mesmo dia; a comunicação social faz um excelente trabalho de sensibilização através de vários meios de comunicação, entretanto há um grupo da sociedade voluntariamente excluído por falta de condições, só para citar algumas realidades. Mas uma reflexão sobre a gravidade da vulnerabilidade social de muitas famílias angolanas pode estar associada à imagem real do estado de saúde mental dos os angolanos.

Na campanha de sensibilização e moblização das comunidades sobre as medidas de prevenção de combate à COVID - 19 desenvolvida pelas Organizações Não Governamentais, AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) e a Associação Omunga, nos municípios do Lobito e da Catumbela, foi possível encarar a realidade de muitas famílias a viverem em zonas com difícil acesso à água corrente e luz eléctrica. Uma chefe de família disse que - “aqui no Alto Vikundu a bacia de água custa 100,00 kz. Uma água que só vai aí ter às custas de camiões com cisternas.

Uma outra realidade muito comum em outras famílias foi constatar que seus responsáveis enfrentam doenças crônicas. Por exemplo, uma família de onze membros encontra-se reduzida a três, sendo que oito deles faleceram de tuberculose entre o ano passado e o corrente. A mesma doença continua a afligir os restantes membros da mesma família. Uma senhora na casa dos 60 que depende da revenda de hortícolas sustenta cinco netos e duas filhas. Entre os netos da anciã, dois têm acesso à escola e um entre os restantes três sofre de perturbações mentais e é paraplégico.

Na verdade cada família com seus problemas característicos, que os tornam socialmente vulnerável.
Na senda da campanha de sensibilização, a AJS encaminhou para as administrações do Lobito e da Catumbela listas com um total de 131 famílias identificadas em situação de vulnerabilidade social extrema. Aliás, essa realidade talvez seja a constatação real daqueles dados tornados públicos pelo Instituto Nacional de Estatística que atesta que de 2018 á 2019, 42% da população angolana vivia em extrema pobreza, isto está perto de 12 á 13 milhões de angolanos.  Não é difícil imaginar como a entrada em vigor do Estado de Emergência terá aumentado consideravelmente a pobreza em muitas famílias angolanas, obviamente, para quem garante a comida no mesmo dia, encontra uma série de dificuldades. Certa moradora disse: – mas é como tudo, ou saímos para procurar comida e morremos com a doença ou ficamos em casa fugindo a doença e morremos de fome, a decisão é alheia.
E para lá ficam as questões que não se calam dentro de muitos: mas afinal de quem é a responsabilidade? O programa de combate a pobreza serve pra quê? Atende quais populações?

Facto é que algumas famílias fazem apenas uma refeição por dia, que já não é uma refeição como tal. Mas é o que podem.

terça-feira, 28 de abril de 2020


Somos quase 30 milhões de habitantes em🇦🇴 Angola, menos de 15 % dos quais têm acesso à internet e 7 % redes sociais.
Então não pensem que a Angola real, àquela para além do asfalto, tem acesso à informação na mesma velocidade e proporção que nós que estamos ligados ao meios de comunicação social.
Na Angola real as pessoas não podem simplesmente ficar em casa porque ainda não podem compreender a situação actual.
Na Angola real as pessoas não tem condições e estrutura para se isolarem, não tem máscaras, álcool e/ou sabão comida e dificilmente chega água.
Então, quando formos fazer regras e/ou dar opiniões vamos por favor pensar na maioria.
Está na hora de sermos mais humanos e de pensarmos para o bem comum.
O meu conselho é que todos nós possamos doar o pouco do que temos para ajudar pessoas a chegarem a mais pessoas levando informação necessária para preservar vidas dos que tanto necessitam.
Está na hora de SER ÚTIL. Ajude a Campanha de sensibilização da AJS - Associação Juvenil para solidariedade, doando aquilo que você pode para ajudar as nossas comunidades, lá onde a informação não chega.

Atvista Social - Dino Calei 

segunda-feira, 27 de abril de 2020

AO EXECUTIVO ANGOLANO

 Assunto: Nota Apelativa

 A Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS) apela para a revisão da orientação do Executivo angolano, tornada pública na Terça – Feira, 21 de Abril de 2020, que autorização as instituições privadas de educação e ensino a cobrarem até 60 por cento do valor da propina mensal, enquanto durar o Estado de Emergência.

Em Decreto conjunto dos Ministérios das Finanças, Educação e do Ensino Superior, o Governo explica que a cobrança inicia-se no período em que foi decretado o Estado de Emergência (Março), devendo as instituições privadas cobrar até um máximo de 60 por cento das propinas mensais, e as comparticipadas até 25 por cento.

A AJS percebe que:

È fundamental, na economia de mercado, como tem experimentado Angola, se pague o que se consome, ou se consumiu ou ainda o que se consumirá;

A economia de mercado privilegia a troca ou a comercialização de serviços pautados nos princípios da promoção da justiça;

Como os professores e outros estabeleceram o vínculo contratual com as sua respectivas instituição empregadoras, devem ser as mesmas instituições a encontrarem formas de cumprirem com as obrigações contratuais dos seus funcionários, conforme outros entes, sem recorrer ao bolso do cliente que nada comprou;

Como não tem de haver um acordo de partilha de lucros entre os estudantes e as instituições de ensino, cabe a elas fazer valer em circunstâncias que o país e o mundo atravessa,  as suas capacidades econômicas e financeiras e de gestão, conforme rezam e orientam as doutrinas e práticas econômicas;

Se justificaria o pagamento das propinas parciais ou completas, se houvessem outras formas estrategicamente efectivas que permitissem que o estudante se beneficiasse com qualidades técnicas e pedagogicamente exigidas, no período referenciado pelo Decreto, dos serviços garantidos pelas instituições de ensino;

As instituições de ensino que não tiverem capacidade de resposta podem encontrar juntos do Estado formas de mitigar tal situação, mas que não seja sacrificado financeira e economicamente quem não está a beneficiar-se do serviço não prestado.

Portanto, vimos por esta via lembrar que a implementação da orientação em questão representa uma lesão ao direito do consumidor e a promoção da angariação do lucro fácil.

Lobito, aos 27 de abril de 2020.

A Coordenação Executiva

Dê suas mãos às comunidades!

Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Ha...