«A nossa população nem toda consegue entender o português. E, na sua maioria, a juventude, pelo contrário, não entende a língua nacional e também tem dificuldade em se expressar, como tal, em português» caracterizou Adriano Justo (AJ). E atribui tal fenómeno ao desprezo que o colonizador, durante séculos, impôs às nossas línguas nacionais, «de tal modo que os pais não transmitiram estas aos filhos», defendeu AJ.
Do mesmo ponto de vista alinha Adelino Kosengue (AK), do Departamento Provincial da Cultura, que julga necessário debater-se sobre o assunto: «porque a nossa juventude, muitas vezes não percebe o que é a língua nacional e se calhar dá importância a outras línguas e deixa aquilo que é natural, do seu país, da sua origem», descreveu.
Questionado sobre a razão de trazer a utilidade das línguas nacionais para debate, o Produtor do programa, Júlio Lofa, argumentou: «nós estamos também preocupados com as pessoas que vivem nas comunidades muito distantes das zonas urbanizadas», para adiante notar que «há muitos projectos a serem desenvolvidos aqui; e o problema da saúde preventiva não é só das cidades, mas também daquelas comunidades onde não se fala o português ou fala-se com muita dificuldade. Portanto, há toda uma necessidade de nos avaliarmos, nós activistas que estamos neste desafio, se, de facto, estamos em condições de levar a mensagem lá onde existe pessoas que precisam de uma outra língua para terem uma informação correcta», justificou.
Com base na sua experiência de jovem promotor da saúde, João Pedro (JP), do projecto da Cáritas Diocesana, “Vida com Esperança”, conta que a dificuldade aumenta à medida que se deixa as sedes municipais, e se atinge as zonas recônditas, exigindo do técnico a adaptação à realidade local para o êxito da missão.
AJ sublinha ainda como incentivo à juventude no uso das línguas nacionais o enquadramento de novos quadros em vários sectores da função pública, ante a necessidade de se adaptarem, para a vital comunicação, ao uso da língua dominante nas áreas em que são inseridos. «Na área de saúde, o conhecimento da língua local é muito importante, porque quando o técnico se expressa na língua materna, o doente tem mais liberdade de se expressar», disse.
«Tenho um sobrinho que, hoje mesmo, perdeu a oportunidade de “agarrar” um emprego por não saber falar a língua nacional», lamentou ainda AJ.
César Kangwe (CK), músico e locutor da língua Umbundu há 23 anos ao serviço da Rádio Nacional, denunciou que na sociedade benguelense o quadro da rejeição virtual da língua materna é mais notório, contrariamente ao que se assiste com os kimbundu, Cokwe, por exemplo.
«Até há pessoas mesmo que sabem falar Umbundu e fingem que não o falam. Procuram formas, quando quiserem pronunciar uma ou duas frases em Umbundu, de fugir um pouco da fonografia da língua, desafinam, que é para darem a entender que não falam. Esse é um pecado que a sociedade vai cometendo», condenou CK.
Mas como fazer com que os termos correntes nas cidades não representem um lesar dos costumes e sensibilidades uma vez levados às zonas rurais? JP reconhece ser uma constante difícil, mas superável: «uma das grandes vantagens que têm feito com que não tenhamos tantas dificuldades, é a recruta dos activistas comunitários locais. E estes submetidos a uma formação, também vão nos ajudar a levantar os termos, especificamente, na língua materna», revelou.
Por seu turno, o Coordenador do Projecto “Viver Contra a Sida-3”, Salomão Gando, é de opinião que o contacto com as línguas nacionais para técnicos de saúde deve iniciar mesmo durante o processo de formação, durante a fase de estágio curricular.
A reportagem simultânea do programa radiofónico “Viver para Vencer” e do Boletim “A Voz do Olho” ouviu Justino Tchapwiya, professor e responsável da Associação dos amigos da língua inglesa (Afela). Tchapwiya recorreu ao exemplo das igrejas na veiculação do evangelho para ilustrar a utilidade da língua local para que a população compreenda a mensagem que lhe é transmitida. Contudo, considera ser necessário trabalhar-se mais com o activista, o mobilizador comunitário, em termos de seminários, palestras e treinamento para passar a informação de base, cooperando com sobas e agentes comunitários, uma recomendação também reforçada por Armindo Jonatão, funcionário do Departamento Municipal do Lobito da Cultura.
O representante do Departamento Provincial da Cultura, AK, lembrou algumas recomendações do 2º Encontro Sobre as Línguas Nacionais: «Que se proceda a integração das línguas nacionais em todos os domínios para que elas possam contribuir para o desenvolvimento global do país; que se proceda a valorização, protecção e divulgação das línguas nacionais como forma de preservação da cultura nacional e consolidação da integridade cultural».
Entretanto algumas iniciativas mereceram elogios dos convidados ao debate. Tal é o caso dos painéis com mensagens de boas vindas “Akombe veya”, por ocasião do Afrobasquete 2007.
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