sexta-feira, 30 de novembro de 2007

UNDP partners in Angola strengthen capacity... Parceiros do PNUD reforçam capacidades

Latest News and Eventshttp://mirror.undp.org/angola/News16.htm
Workshop on Program & Financial Management, Monitoring & Evaluation and Human Resources

Luanda, 2 November 2007 - On October 31st and November 1st, the UNDP implemented a two-day workshop in Luanda on Program and Financial Management, Monitoring and Evaluation and Human Resources in order to improve the capacity of major national and international civic agencies and grass roots organizations on these subjects. (Decorreu de 31 de Outubto a 1 de Novembro, em Luanda, o Wosrkshop sobre Gestão de Programa e Finaças, Monitoria e Avaliação e Reciursos Humanos com a finalidade de incentivar a capacidade da maioria das agências de educação cívica nacionais e internacionais e organizações de base comunitárias no que se refere às temáticas do seminário).

Approximately 30 people attended this training, where 70% were male and 30% female. Including among these organizations were: OXFAM-GB, MINSA, INLS, IPMP, ASASP, AJD, ADEMA, OIKOS, PROGRAMA CG, INACAD, AJS, AFDER, AAM, ADPP, LPV and PNCM. The Global Fund was also represented. (Cerca de 30 pessoas participaram do seminário, sendo 70% do sexo masculino e 30% do sexo feminino. Estiveram representadas entre outras as organizações: acima indicadas. O Fundo Global fez-se também representar).

On Wednesday, the first day of the workshop, the themes presented by Malaquias Tenente and Francisco Afonso were: Project, Program and Financial Management, as well as Quarterly and Annual Report preparation. During the second day, Manuel Solis and Lemuardo Neto presented themes on Monitoring and Evaluation and Human Resources. (Na quarta-feira, o primeiro dia do seminário, os temas foram apresentados por Malaquias Tenente e Francisco Afonso, nomeadamente "Gestão de Financeira e programática do Projecto", bem como a preparação dos relatórios trimestrais e anuais. Durante o segundo dia, Manuel Solis e Lemuardo Neto apresentaram os temas relacionados com a Monitoria, Avaliação e Recursos Humanos).

Similarly to what has been presented during a previous week seminar for NEX and DEX programs and projects, the thematic intervention which brought more attention was the one on monitoring and evaluation, being rated the highest in priority from the participants. (À semelhança do que foi apresentado no seminário que teve lugar na semana anterior, para os programas e projectos da NEX e DEX, a temática de intervenção que captou mais atenção foi a da Monitoria e Avaliação, tendo reputado como a mais alta das prioridades pelos participantes).

Cesar Menha, Financial Assistant from the Youth Association for Solidarity (AJS) from Lobito, «this training is very important so we can better do our job more effectively and efficiently». The Coordinator for the same association, Mr. António Salomão, said that «I was sick and was not planning to attend this seminar, but I am very happy because we got the best tools so we can better perform our duties in Lobito». (Segundo César Menha, Assistente de Finanças da AJS - Associação Juvenil para a Solidariedade, do Lobito, «este seminário é muito importante porque ajuda-nos a melhorar o nosso trabalho, tornando-o mais efectivo e mais eficiente». Já o Coordenador do Projecto da mesma Associação, Salomão Gando, referiu: «eu estive doente e não previa participar do seminário, mas estou bastante satisfeito porque obtivemos as melhores ferramentas para um melhor desempenho das nossas acções no Lobito»).

Translated by Gociante Patissa (AJS) / Source: UNDP Angola webpage

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Editorial: Presos na ironia do "Ciclo do Projecto" (Já circula a ediçao de Outubro do AV-O)

Seriam de lembrar com nostalgia — se fosse possível lembrar o que nunca se esqueceu — as palavras do responsável de uma ONG angolana, proferidas em 2000, pouco depois da formalização da AJS, quando ainda iniciávamos ansiosos e ingénuos o caminho pela afirmação. Dizia-nos então o companheiro que “projectos são o sangue de uma Organização”, uma metáfora pertinente, se entendermos que, face aos problemas comunitários, a inteligência e a capacidade de acção das “Organizações” devem ser sistematizadas.

Nesses oito anos de crescimento (como equipa) da AJS, o termo “projecto” passou a ter mais significado, maior presença, tendo em nossas preocupações lugar quase cativo. Um projecto representa uma oportunidade de aprender sobre e com a comunidade, conquistar doadores, exercitar habilidades, construindo assim a história da Organização.

Ora, até aqui, como muitos perceberão ao ler estas linhas, não haveria nada de novo, vendo “projecto” no seu sentido lato, tido como o estabelecimento de caminhos e paradigmas por um determinado fim. Afinal é comum ouvir que cada pessoa é responsável pelo seu projecto de vida, ou seja, que a nossa vida é um projecto. E tanto no plano pessoal como institucional, as aspirações fazem-nos lutar para o alcance dos objectivos, contornando constrangimentos.

Mas para a “nossa realidade”, o fim de um projecto, embora previsível, é sempre uma etapa de mudanças e quebra de ritmo; uma espécie de tristeza na hora da colheita para o camponês, já que a alegria dos frutos à vista não esconde a triste e habitual sensação de estar ao voltar ao ponto de partida.

Isso mesmo, a terceira edição do projecto “Viver Contra a Sida”, iniciativa da AJS desde 2001, chegou ao fim. O acordo de financiamento com o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), terminou em Setembro último, tendo sido, em função dos indicadores de progresso, prorrogado até Dezembro. E embora natural a paragem, já que as etapas do ciclo do projecto compreendem a identificação deste, a planificação, a implementação e a avaliação, salienta-se contudo uma diferença. Representa uma eminente falta de recursos não só para a edição do Boletim mensal “A Voz do Olho”, distribuído gratuitamente, mas também um interregno na emissão do programa de debate “Viver para Vencer”, emitido pela Rádio comercial, por serem ambos linhas de força do projecto “Viver Contra a Sida-3, Cidadania e Saúde Preventiva”.

E enquanto, por um lado, comemorávamos o primeiro aniversário do programa “Viver para Vencer”, no final de Outubro, por outro lado, também, a Coordenação Executiva da AJS intensificava contactos com doadores para a continuidade das acções. Portanto, se algo aparentemente nos obrigar a parar, será, isso sim, a ironia do ciclo do projecto.

AJS—“Humildade, Justiça e Solidariedade”

Cidadã morre soterrada (Quando desafiava montanha para sustento)

Uma cidadã de 32 anos, que em vida se chamou Maria de Fátima (MF), moradora do Sector da Hondokela no Bairro da Santa-Cruz, Lobito, faleceu soterrada no passado dia 29/10, por volta das 10h50. Maria deixa viuvo e dois filhos.
MF fazia parte do grupo de mulheres entregues à miséria e que, para a sua subsistência, se dedicam à extracção de terra arenosa, daquilo que ainda sobra do antigo morro residencial da já falida Açucareira, junto da ponte do Estádio do Buraco. O produto, que transportam à cabeça, é comprado geralmente por pessoas de baixa renda, que, na falta de cimento, rebocam as suas obras com terra e areia.
«O lugar estava húmido, mas ela não conseguiu dar conta do recado. Chegou ao local, tentou extrair a terra e automaticamente a terra desabou sobre ela. E, o pelo peso da terra, já não resistiu e acabou por sucumbir», contou à reportagem do Boletim a Voz do Olho um dos mais antigos responsáveis da Subcomissão de Moradores do Bairro da Santa-Cruz, Celestino Dias “Tino” (CD). Após o alerta de testemunhas, conta a nossa fonte: «nós demos todos os procedimentos jurídicos: ligamos para a terceira esquadra, a qual nós pertencemos, e por sua vez também ligou para a investigação criminal para fazer chegar ao piquete».
A área representa um perigo eminente, já que, tendo sido desbastada pela construtora francesa, Satom, pouco sobrou do morro para aguentar o poste de alta tensão, o que vem sendo agravado pela erosão e pela acção de cidadãos que vêm neste “garimpo” um ganha-pão. A par disso, a bacia formada à sua volta pela força das chuvas tem constituído também um risco de afogamento para os petizes que fazem da água parada uma “piscina”.
«Não é a primeira vez» - recorda CD- «Pela primeira vez se deu, se bem me lembro, o ano passado, já se deu um caso idêntico: a terra desabou e houve unicamente um ferimento. Pela segunda vez, a terra desabou, acabou por sucumbir uma senhora e saíram dois feridos. E esta, nós podíamos denominar como terceira vez».
Após este recente infortúnio, nenhum “garimpeiro” voltou ao local, algo que CD encara com indiferença por recear que, passado o choque, tudo volte à mesma. E justifica: «Nós já havíamos alertado que ninguém mais deveria fazer aquele trabalho, mas como se sabe, que hoje o índice de desemprego é maior, nós podemos alertar, eles fazem daquilo o seu ganha-pão; eles continuam a levar a sua actividade laboral, que é a extracção de terra junto do poste de alta tensão».
Sabe o AV-O que o entulho do local é a solução projectada pelas autoridades.

1º Aniversário celebrado com prémios, bolos e reflexão

Chama-se Paulino Handa Capusso, morador do bairro São João, Lobito. Por seis vezes interveio em debates ao telefone no programa “Viver para vencer” (VpV), de Outubro de 2006 a Outubro de 2007. Só não sabia ele que conquistava assim o estatuto de “Ouvinte do Ano”. Na mesma categoria, destacou-se para o género feminino a cidadã Georgina Tchitumba, da vila da Catumbela, com duas participações. Notas de reconhecimento e prendas simbólicas foram distribuídas aos premiados.

«Acho que não merecia. Participando no programa, eu é que ganhei. Peço a todos que participem, que contribuam, porque este programa ajuda em vários sentidos», reagiu emocionada a Georgina à distinção, enquanto a voz trémula se perdia nas palmas da equipa, que “invadiam” o quintal e as hondas hertzianas da 97.5 e 96.0 FM.

A distinção estendeu-se também às instituições que mais acederam aos convites da nossa produção, sendo que, pela ONG Médicos do Mundo-Espanha, Concha Fernandes foi a “convidada mais”, ao passo que, pela Direcção provincial da Juventude e Desportos, distingiu-se o funcionário Daniel Ngunde.

Alberto Isaac, sonorizador sénior da Rádio Morena Comercial, foi reconhecido pelo contributo na gravação das peças teatrais radiofónicas, iniciativa conjunta do Projecto “Palmas da Paz” e do Projecto “Viver Contra a Sida-Cidadania e Saúde preventiva”. Fredy Trindade foi o operador mais constante.

Foi desta forma que a equipa do programa de rádio VpV decidiu comemorar, a 23/10, o primeiro aniversário daquele que, mais do que um programa de rádio, já se tornou em espaço público na promoção da mudança social através do debate de ideias e partilha de opiniões sobre cidadania, prevenção de conflitos e saúde pública.

Dos 331 convites emitidos ao longo de 12 meses, o número de pessoas que compareceram totaliza 134, 46 cidadãos foram entrevistados, e 151 telefonemas foram registados. Os números têm um significado profundo para quem trabalha na produção, entendida como a criação de condições para o programa ir ao ar com a qualidade que o público merece.

Florentino Calei, assistente de produção, mostrou-se satisfeito pelo reconhecimento público de ouvintes ao telefone e não só, até porque, «não é fácil sairmos à rua em busca de entrevistas; há pessoas que nem querem falar aos microfones do Viver para Vencer», agradeceu emocionado.

A festa que começou no quintal da rádio Morena, donde o programa foi excepcionalmente emitido e continuou noite a dentro na sede da AJS, bairro da Santa-Cruz, Lobito, onde nos aguardava um jantar de confraternização preparado por Mariana Teixeira, nossa colega. E... “cuiou”, de facto!

AJS—”A cidadania é resultado de um exercício permanente de educação e comunicação”

Temos vergonha das nossas línguas?

O uso das línguas nacionais na promoção da saúde pública foi tema de debate, na 51ª edição do programa radiofónico “Viver para Vencer”, no passado dia 09/10, juntando mobilizadores comunitários, jornalistas e técnicos de saúde.

«A nossa população nem toda consegue entender o português. E, na sua maioria, a juventude, pelo contrário, não entende a língua nacional e também tem dificuldade em se expressar, como tal, em português» caracterizou Adriano Justo (AJ). E atribui tal fenómeno ao desprezo que o colonizador, durante séculos, impôs às nossas línguas nacionais, «de tal modo que os pais não transmitiram estas aos filhos», defendeu AJ.

Do mesmo ponto de vista alinha Adelino Kosengue (AK), do Departamento Provincial da Cultura, que julga necessário debater-se sobre o assunto: «porque a nossa juventude, muitas vezes não percebe o que é a língua nacional e se calhar dá importância a outras línguas e deixa aquilo que é natural, do seu país, da sua origem», descreveu.

Questionado sobre a razão de trazer a utilidade das línguas nacionais para debate, o Produtor do programa, Júlio Lofa, argumentou: «nós estamos também preocupados com as pessoas que vivem nas comunidades muito distantes das zonas urbanizadas», para adiante notar que «há muitos projectos a serem desenvolvidos aqui; e o problema da saúde preventiva não é só das cidades, mas também daquelas comunidades onde não se fala o português ou fala-se com muita dificuldade. Portanto, há toda uma necessidade de nos avaliarmos, nós activistas que estamos neste desafio, se, de facto, estamos em condições de levar a mensagem lá onde existe pessoas que precisam de uma outra língua para terem uma informação correcta», justificou.

Com base na sua experiência de jovem promotor da saúde, João Pedro (JP), do projecto da Cáritas Diocesana, “Vida com Esperança”, conta que a dificuldade aumenta à medida que se deixa as sedes municipais, e se atinge as zonas recônditas, exigindo do técnico a adaptação à realidade local para o êxito da missão.

AJ sublinha ainda como incentivo à juventude no uso das línguas nacionais o enquadramento de novos quadros em vários sectores da função pública, ante a necessidade de se adaptarem, para a vital comunicação, ao uso da língua dominante nas áreas em que são inseridos. «Na área de saúde, o conhecimento da língua local é muito importante, porque quando o técnico se expressa na língua materna, o doente tem mais liberdade de se expressar», disse.

«Tenho um sobrinho que, hoje mesmo, perdeu a oportunidade de “agarrar” um emprego por não saber falar a língua nacional», lamentou ainda AJ.

César Kangwe (CK), músico e locutor da língua Umbundu há 23 anos ao serviço da Rádio Nacional, denunciou que na sociedade benguelense o quadro da rejeição virtual da língua materna é mais notório, contrariamente ao que se assiste com os kimbundu, Cokwe, por exemplo.

«Até há pessoas mesmo que sabem falar Umbundu e fingem que não o falam. Procuram formas, quando quiserem pronunciar uma ou duas frases em Umbundu, de fugir um pouco da fonografia da língua, desafinam, que é para darem a entender que não falam. Esse é um pecado que a sociedade vai cometendo», condenou CK.

Mas como fazer com que os termos correntes nas cidades não representem um lesar dos costumes e sensibilidades uma vez levados às zonas rurais? JP reconhece ser uma constante difícil, mas superável: «uma das grandes vantagens que têm feito com que não tenhamos tantas dificuldades, é a recruta dos activistas comunitários locais. E estes submetidos a uma formação, também vão nos ajudar a levantar os termos, especificamente, na língua materna», revelou.

Por seu turno, o Coordenador do Projecto “Viver Contra a Sida-3”, Salomão Gando, é de opinião que o contacto com as línguas nacionais para técnicos de saúde deve iniciar mesmo durante o processo de formação, durante a fase de estágio curricular.

A reportagem simultânea do programa radiofónico “Viver para Vencer” e do Boletim “A Voz do Olho” ouviu Justino Tchapwiya, professor e responsável da Associação dos amigos da língua inglesa (Afela). Tchapwiya recorreu ao exemplo das igrejas na veiculação do evangelho para ilustrar a utilidade da língua local para que a população compreenda a mensagem que lhe é transmitida. Contudo, considera ser necessário trabalhar-se mais com o activista, o mobilizador comunitário, em termos de seminários, palestras e treinamento para passar a informação de base, cooperando com sobas e agentes comunitários, uma recomendação também reforçada por Armindo Jonatão, funcionário do Departamento Municipal do Lobito da Cultura.

O representante do Departamento Provincial da Cultura, AK, lembrou algumas recomendações do 2º Encontro Sobre as Línguas Nacionais: «Que se proceda a integração das línguas nacionais em todos os domínios para que elas possam contribuir para o desenvolvimento global do país; que se proceda a valorização, protecção e divulgação das línguas nacionais como forma de preservação da cultura nacional e consolidação da integridade cultural».

Entretanto algumas iniciativas mereceram elogios dos convidados ao debate. Tal é o caso dos painéis com mensagens de boas vindas “Akombe veya”, por ocasião do Afrobasquete 2007.

Terá faltado respeito em Joanesburgo? Lucky Dube assassinado por "batuqueiros"

“Uma morte absurda”, assim consideraram amigos, artistas, políticos, intelectuais, enfim, cidadãos do mundo, quando apanhados desprevenidos pela velocidade sanguinária da violência urbana na África do Sul. Segundo a polícia, Lucky Philip Dube, de 43 anos, foi assassinado por supostos ladrões de carros, ou “batuqueiros” como são conhecidos entre nós, no dia 18/10, depois de ter deixado dois filhos adolescentes, à noitinha, em casa de um irmão em Rosettenville, subúrbio de Joanesburgo.

Os meliantes surgiram de súbito, abriram a porta de seu Chrysler e dispararam à queima-roupa, uma cena assistida pelo filho, que chamaria pela polícia instantes depois, enquanto o artista tentava fugir, até a viatura embater num obstáculo metros adiante e perder a vida. A polícia já deteve quatro presumíveis assassino, entre 31 e 35 anos, nomeadamente, Sifiso Mlanga e Julius Gxowa, de nacionalidade sul-africana, e os moçambicanos Thabo Mafoping e Mbofi Mabe, cuja sessão de discussão em tribunal deveria acontecer no fim de Outubro, de modo a permitir-lhes a constituição do suporte legal a que têm direito.

No domingo, 28/10, Lucky Dube, que deixa viuva, Zenale, e sete filhos, foi a enterrar em cerimónia restrita à família e amigos mais chegados, na sua fazenda, situada em Newcastle, província de KwaZulu-Natal. O enterro entretanto foi alvo de polémica, já que, para cumprir aquilo que a família considera ser o último desejo do malogrado, o funeral deveria ser algo restrito e simples; ou seja, a participação de milhares de pessoas de todo o mundo limitar-se-ia ao velório, reservando-se os familiares e amigos chegados o privilégio de acompanhar Lucky até à sua última morada, o que, embora legítimo, é desproporcional à dimensão deste terapeuta do reggae contemporâneo.

«Devemos continuar a agir em conjunto como um povo que combate esta terrível onda de crime, que tem tirado a vida a demasiados sul-africanos», disse o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki.

Apesar de nunca ter estado em Angola, a morte Lucky Dube enlutou admiradores da sua música, amantes do Reggae e os amigos do povo-sul africano de modo geral. Amplamente anunciada pela imprensa angolana, a notícia teve como reacção mais sonante a marcha organizada pelo Movimento Rasta Fari em Luanda, a 26/10.

«É importante rendermos homenagens as pessoas, como ele, que lutaram pelo bem-estar social, e condenar estes tipos de acontecimentos criminais, porque só assim conseguimos demonstrar para as outras pessoas que estamos unidos em laços de irmandade», disse à Angop o ancião da comunidade Rastafari de Angola, Faia Congo.

O relatório da polícia enfrenta ainda um implícito inconformismo quanto à ideia de se tratar (só) de um assalto de ladrões de carro, já que, para além de não ter sido levada a viatura, Lucky Dube é a segunda celebridade abatida em menos de um mês. No passado dia 15/10, o actor Patrick 'Kid' Mokoena, que se notabilizou na série televisiva 'Soul City', foi também assassinado a tiro num bar na zona de Jeppe, perto do centro de Joanesburgo.

A criminalidade é um gritante ponto fraco da governação do país que se ressente ainda do espectro do Apartheid, regime baseado na segregação etno-tribal e na supremacia económica, cultural e política da minoria branca, tendo sido o uso da violência recurso do povo negro na luta pelo direito à dignidade. E a insegurança poderá afugentar turistas e investidores quando a África do sul albergar o Mundial de Futebol em 2010.

De acordo com o site brasileiro www.primeirahora.com.br, citando fontes oficiais, a África do Sul regista mais de 19 mil assassinatos e 400 mil ataques por ano. A polícia sul-africana registou aproximadamente 20 mil assassinatos no período entre Março do ano passado e o primeiro trimestre deste ano, o que representa um aumento de 2,4 por cento em comparação com os índices do ano passado. São também tidos como altos os número de estupros e de roubo de carros(Reuters).

Perfil

O nome Lucky foi-lhe atribuído pela mãe por ter nascido em condições difíceis de saúde, a 03/08/1964, em Ermelo, no Transvaal Leste, hoje Mpumalanga. Cresceu sob cuidado da avó, enquanto a “mãe solteira” Sarah, tinha de trabalhar. Sua infância foi marcada pela miséria e pelo Apartheid.

Iniciou a cantar em bares na sua cidade natal e na igreja, e logo fez parte da banda Love Brothers, na qual tocava mbaganga durante dois anos. No início dos anos 80 decide abraçar então o estilo Reggae.

Criança ainda, trabalhou como jardineiro em casa de uma família branca, o que viria abandonar face as humilhações e pouca remuneração, optando por estudar. E na escola forma a sua primeira banda,'The Sky Way Band'. Desde a gravação do primeiro álbum em 1986, "Rastas Never Die," sufocado na época pelo poder da sensura, até atingir o apogeu, Lucky manteve a humildade, o que lhe permitiu estar sempre perto do seu povo. Lucky Dube foi o primeiro artista negro na África do Sul com a música a tocar numa estação de Rádio.

Ao contrário do estereotipo de músicos, especialmente do estilo Reggae, Lucky Dube não fumava marijuana (liamba), não bebia, muito menos permitira integrantes da banda consumirem álcool antes do espectáculo. A sua mensagem aborda questões políticas, sociais e pessoais – coisas que jogam importante papel na vida de qualquer cidadão. Uma vez foi questionado sobre o que o inspirava, ao que humildemente respondeu: «As pessoas! Olhar as pessoas, observar movimentos e o que fazem, em situações e experiências da vida real de pessoas» (blackwomanineurope.blogspot.com.

Publicou 21 álbuns em Zulu, Inglês e Afrikaans, num período de 25 anos, e conta ainda a sua trajectória com 20 distinções pela voz, música e vídeo, chegando mesmo a ser condecorado cidadão honorário do Estado de Texas, EUA, a 27 de Maio de 2007.

«O amor e o respeito deviam andar de mão em mão; é impossível ter amor por alguém se não o respeitas. Com respeito, o mundo pode ser um local melhor para se viver», era a forte convicção de Lucky Dube quando lançou o seu último álbum “Respect”.

Por: Gociante Patissa (www.angodebates.blogspot.com)

A nicotina (tabaco) Aspectos históricos e culturais ... Cuidado com as drogas— Prevenção e orientação sobre o uso indevido de drogas

Planta originária do continente americano, o tabaco já era fumado pelos índios desde antes da chegada dos colonizadores europeus. Esse hábito, como os demais de mascá-lo ou aspirá-lo, foi sendo adquirido também pelos viajantes europeus que vinham à América.

Foi, somente em 1560, que o uso do tabaco veio a tomar grande impulso na Europa, a partir da propaganda de Jean Nicot-diplomata francês cujo nome originou a palavra NICOTINA- de que ela possuía "maravilhosos poderes curativos". Foi Nicot que introduziu o seu uso na França. Com o passar do temo, o hábito de fumar tabaco ia se propagado e, no século XVII, já era vício generalizado em toda a Europa, alcançando também a África e Ásia.

O tabaco perde, contudo, sua auréola de "remédio para todos os males", restringindo seu uso à população de baixa renda. Mas aos poucos vai ganhando o gosto da nobreza e da burguesia e, por fim, no início do século XVIII, é um dos maiores valores de comércio internacional. O cachimbo no século XVII, o rapé e o hábito de mascar no século XVIII, assim como o charuto no século XIX, foram formas muito comuns do uso do tabaco nas respectivas épocas.

Mas a grande "democratização" do consumo de tabaco veio a acontecer no século XX, com a expansão do hábito de fumar cigarro. Originário dos "papeletes" ou "papelitos" espanhóis do século XVII e do "cigarette" francês do século XIX, o cigarro se popularizou de forma impressionante no século XX, sobretudo depois da Primeira Guerra Mundial. Apesar de existirem vozes se opondo ao uso do tabaco, este sofreu uma expansão constante e crescente. Somente na década de 60, com a revelação dos cientistas de que o cigarro provoca câncer no pulmão e outros males, é que se deu início a uma campanha contra o seu uso. Certos grupos tomam esta campanha como uma verdadeira "cruzada".

Efeitos físicos e psíquicos

Comsumida por via oral ou nasal, a nicotina, componebte do tabaco, é considerada uma droga estimulante. Nao possui nenhum efeito terapêutico, provocando dependência física e psíquica. Provoca tolerância, ou seja,o organismo adapta-se a sua presença através de um processo biológico, e sujeita a síndromas de abstinência os indivíduos que param de fumar de uma maneira brusca. Entre as 4 mil substâncias existentes na fumaça do tabaco, a nicotina é a responsável pela dependência física, caracterizada por sintomas de irritabilidade, palpitação, tontura, ansiedade e fadiga.

Outras consequências físicas:aumento da pressão arterial, diminuição do fluxo sanguíneo para a pele, diminuindo a temperatura; aringites, bronquites, falta de apetite; perturbações da visão; diversos tipos de câncer; doenças cardiovasculares, angina, enfarto.

Por: José Sende (josesende2005@yahoo.com.br )/ Colaborador repórter do Boletim "A Voz do Olho"

Mais um desafio para estudantes e investigadores... Balombo considerado passado relevante para a história de Angola

O chefe da secção municipal da Cultura no Balombo, província de Benguela, Daniel Kundy, considerou recentemente que aquela região constitui passado relevante que pode ajudar a enriquecer significativamente a história geral de Angola.
Falando à Angop, o agente cultural disse que dados disponíveis revelam que o Balombo é habitado por povos oriundos de diversos reinos que existiram antes da chegada dos portugueses, isto em 1842. Apontou os reinos do Bailundo, Tchiyaka, Kaconda, Ngaguela e dos Ambós, como provável origem da população que hoje habita o território denominado Balombo, cujo número de habitantes se estima em cerca 169 mil.
O facto de existirem duas versões sobre a provável origem da população do Balombo e tendo em conta os vários vestígios deixados pelos antepassados, a fonte é de opinião, tornar-se necessário que os historiadores aprofundem o estudo sobre esta temática.
"A terminologia dos nomes dos cidadãos também revela as diferenças de origens, pois existem indivíduos cujos nomes indicam que os seus antepassados são dos Ngaguelas como é o caso de Ndala, Muntango e Nhama. Outros são próprios para a província da Huíla como Kavendji, Kavendjele e Kuateiko", argumentou Daniel Kundy.
Os habitantes da região têm como língua nacional o umbundu e comungam os mesmos hábitos e costumes. Os métodos de cultivar a terra e de criar o gado são os mesmos.
No sector cultural têm em comum as danças tradicionais, designadamente tchipuete, nhantcho, litamba, mangando, ndunguma, tchingunfo e thingandji. Texto: Angop, Benguela, 15/10 (foto: Arquivo AJS)

Sociedade civil deve participar na resolução dos problemas do continente

O especialista em Relações Internacionais, Mário Pinto de Andrade, defendeu, a 30/10 em Luanda, a necessidade das elites políticas angolanas darem a conhecer à sociedade civil os principais problemas que assolam o continente africano.

Defendeu tal posição na palestra sobre o tema “da OUA- a UA e a questão Estados Unidos de África", inserida nas primeiras jornadas científicas das Relações Internacionais, na Universidade Lusíada.
O também docente universitário destacou que as elites angolanas devem dar mais espaço à sociedade civil para puderem dar o seu ponto de vista sobre os principais conflitos que assolam o continente.

“É necessário que a questão da criação dos Estados Unidos de África sejam debatido em universidades e workshops, evitando assim que os documentos não sejam guardados nas gavetas, mas sim debatidos pela sociedade civil", disse.

Acrescentou que, nos demais países africanos os lideres discutiram o tema nas universidades e nos medias, com o intuito de se dar a oportunidade à população para apresentar sugestões sobre a criação de uma possível Federação dos Estados Africanos.

Referindo-se sobre esta questão, considerou uma utopia a criação do Estados Unidos de África, pois nenhum Estado africano encontra-se em situação de ceder parte da sua soberania a um órgão decisório.

Mário Pinto de Andrade frisou ainda que a integração regional no continente africano é deficiente, pois só agora os estados estão a dar passos largos para a materialização desse objectivo, como é o caso da SADC (Comunidade Desenvolvimento dos Países da África Austral). Fonte: Angop

Na passagem de mais um “9 de Outubro”... Sociedade preocupada com o futuro dos serviços de correio


Há pouco menos 20 anos, os Correios lideravam enquanto factor universal de união, tanto ao nível de instituições, como também familiar ou pessoal. Tal como o número de telefone, era o número da caixa postal referência obrigatória dos cartões de visita e da troca de endereços no geral. Hoje, porém, em Angola, o serviço de correio postal tem sido relegado ao penúltimo plano, perante o colossal progresso das tecnologias de informação e comunicação.
As correspondências enviadas em métodos convencionais pelos Correios de Angola continuam a ser definidas pelo seu peso em função da via quer seja normal, registada ou correio azul, de acordo com a Chefe adjunta da Estação Posto da Vila Alice, Suzana Jambela, ouvida pela televisão estatal. “A via normal não tem urgência e pode levar 8 dias, por registo a correspondência é segura e entregue ao destinatário mas já leva 4 dias ao passo que o Correio azul também é uma via urgente”, disse ao «Ecos e Factos».
Por esta razão as salas de Internet também são uma componente das Estações e têm levado muita gente a troca de correios através dos meios electrónicos de acordo com o responsável desta área da Estação postal da Vila Alice Edson Silva, Luanda. “Há pessoas que fazem negócios e recorrem a esta sala para trocar correspondências ou mandar um e-mail (correio electrónico), para um amigo que esta fora do país”, disse.
Este “brinquedo novo” que atende pelo nome de informação digital no mundo globalizado absorve a mesma energia de adolescentes e jovens ávidos de aventura e curiosidade, um instinto cíclico, tal como acontecia outrora em que era moda dedicar-se à correspondência com o mundo ocidental em busca de amizades, prendas, postais de atletas e emblemas dos principais clubes do campeonato português de futebol.
Entretanto, o mundo digital não é o único concorrente feroz dos serviços convencionais de correios. Se por um lado, face à insegurança durante o conflito armado, os serviços de correios viram-se forçados a confinarem a sua acção nas zonas urbanizadas, e que, por outro lado, os cinco anos sem guerra são insuficientes para a recuperação e expansão do serviço de correios por toda imensa Angola e além fronteira, tal facto deu oportunidade a outras iniciativas.
Na verdade, os ventos da industrialização, cada vez mais velozes, fizeram surgir no mercado angolano outros agentes com larga experiência internacional no ramo, das quais a DHL é de forte presença, com o seu célebre serviço de entrega domiciliar. Não sendo tudo, há a considerar, outrossim, o interesse de algumas companhias de aviação que operam no país. Se as companhias aviadoras antes eram a ponte entre o CTT e a satisfação dos seus clientes, hoje porém estas meteram a mão na massa.
O Boletim "A voz do Olho" sabe que o Plano Director dos Correios de Angola almeja operacionalizar 124 Estações Postais em todo país, incluindo de 69 que foram destruídas pela guerra.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Obrigado, senhor Agente... É essa a polícia que queremos

Agente de Trânsito dá prioridade a zungueiras

Cidade de Benguela, 14/09: Um agente regulador de trânsito da polícia nacional destacado no cruzamento da Naipe, como é vulgarmente conhecido, tomou a liberdade de revolucionar um pouco a sua forma de actuar, no início da tarde desta quarta-feira: perante um trânsito incomodado pela lama da chuva da noite anterior, o agente abandonou a pinhanha e, num gesto ímpar, via-se, de vez em quando, o agente suspender a marcha das viaturas para permitir a travessia de vendedoras ambulantes, as quais acompanhava com a mão no ombro, num gesto típico de “irmão mais velho”.

Esse gesto pode, aparentemente, ser irrelevante para muito boa gente, menos para aqueles que acompanham com preocupação a dificuldade que os nossos vendedores ambulantes enfrentam no seu dia a dia, quanto mais não fosse pelo risco de atropelamento, sobretudo em áreas sem passadeira de peões como tal.

Numa sociedade como a angolana em que a relação entre vendedores ambulantes e agentes da ordem é conhecida principalmente por alguma violência e usurpação de haveres, é de todo justo merecedor de um grande elogio esse gesto.

Gociante Patissa (www.angodebates.blogspot.com)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Núcleos "escolas amigas da criança" disputam torneio em futebol

Disputou-se, de 29/09 a 05/10, o Torneio Inter-escolar em futebol infanto-juvenil, do qual participam quatro núcleos escolares, nomeadamente, 17 de Setembro do Chimbuila, Centro Rei Mandume da Zona Comercial, Mutu ya Kevela doBairro da Luz, e Rei Mandume da Santa Cruz, todas elas da cidade do Lobito. O torneio, cuja primeira edição foi lançada o ano passado com participação de núcleos escolares da cidade de Benguela, é uma iniciativa da Coligação “Ensino Gratuito, Já!”, através do seu projecto “Escolas amigas da criança”.

Nos bastidores da equipa da Santa-Cruz, vencedora da edição passada – na altura sob o comando de César Menha – reinava um misto de ansiedade e optimismo quanto à manutenção do título e à adaptação da nova equipa técnica, a dupla Justo e Amado.

As partidas decorreram no campo da Escola de Formação de Oficiais, no bairro da Luz, Lobito, tendo ficado a classificação da seguinte forma: 1º lugar -Núcleo da Escola Rei Mandume, Santa-Cruz; 2º lugar para a escola 17 de Setembro do Alto-Chimbuila, zona Alta; 3º classificado - Escola Mutu ya kevela do bairro da Luz e em último lugar o Centro Rei Mandume, da zona Comercial.

Numa excursão marcada pela diferença... AJS leva teatro e educação à Praia da Caota

A excursão de carácter recreativo e educativo, que teve lugar, no transacto dia 23/09, na praia da Caotinha, um canto turístico de referência obrigatória em Benguela, constituiu o ponto mais alto das actividades agendadas para o mês de Setembro. Sob o lema “Com preconceito você não vê as coisas tal como elas são”, o evento juntou mais de 90 jovens vindos do Lobito, Catumbela, Benguela e Baía Farta.
Teatro, poesia, jogral, corrida de sacos, partidas de futebol, rechearam a excursão, que conseguiu ocupar o tempo livre da juventude de forma construtiva, com os olhos postos na cidadania activa e na mudança de atitude ante às Infecções de Transmissão sexual (ITS). Tanta foi a força do evento, que cerca de 25 banhistas encontrados no local se juntaram à festa.
Estando próximo o fim da terceira fase de implementação do Projecto “Viver Contra a Sida, Cidadania e Saúde preventiva”, a excursão foi igualmente uma oportunidade de auscultar opiniões dos participantes sobre as actividades que vêm sendo realizadas de forma directa em algumas comunidades da periferia do Lobito (São João e Santa-Cruz, Lobito, Curral e alto Chimbuila, Catumbela) e, de modo geral, aos restantes municípios do litoral da província, Benguela e Baia Farta.
A Coordenação Executiva da AJS e a equipa gestora do Projecto avaliaram de muito encorajadora a primeira experiência com excursões à dimensão tri-municipais.
Aliás, satisfação foi também o que revelou o professor Alfredo Lobito, em representação da Escola “Bom Samaritano”, plantada no morro da Kalumba-Lobito, para quem eventos deste tipo são de louvar e devem continuar.
Para Félix Rodrigues “Guy”, um dos responsáveis do grupo de teatro de intervenção formado por activistas voluntários pela AJS, a actividade exigiu grande responsabilidade, dada a tendência juvenil de irreverência. Gostou, no entanto de ver “convidados a se divertirem”, disse.
Fonte: Boletim "A Voz do Olho", Setembro /07 (AV-O/ Palmas da Paz)

Denúncia: "Há cábula em todas as instituições de ensino" (Ajuda à memória ou vergonha do nosso sistema educativo?"

Você já fez cábula? É uma pergunta aparentemente simples, mas que deixa pouco à vontade muito boa gente, a depender da circunstância. Uma prática antiga e ainda polémica. A 47ª edição do programa radiofónico “Viver para Vencer”, oferta da AJS através da Rádio Morena, foi dedicada ao debate antecedido de uma reportagem sobre o fenómeno cábula. É simplesmente uma ajuda à memória ou algo que se deve combater?
Ouvimos Valdemar Manuel, estudante finalista do Instituto de Ciências Religiosas de Angola (Icra): “Já fiz cábula uma vez. Tinha dificuldades em História e decorar números. Na altura não sabia que era tão bom ter a capacidade de decorar números. Então as datas e séculos escrevia nas mãos”, confessou, para a seguir apontar a prováveis causas: “A preguiça mental, alguns porque são viciados, outros porque não se acreditam que são capazes de reter ou compreender o conteúdo que têm. Alguns alegam falta de tempo e por isso fazem cábula”. Preocupado com o futuro, Valdemar aconselha: “A cábula não leva a um conhecimento eterno, leva sim a um conhecimento imediato. Vocês têm que optar em estudar”, frisou.
Outra estudante, de 18 anos, finalista do Centro Pré-universitário (Puniv), que só sob anonimato aceitou falar à nossa reportagem, denuncia como o avanço da tecnologia é aproveitado para aperfeiçoar a cábula. “Agora, com a tecnologia, já dá para fazer cábula pelo telefone, pen-drives. Antes era com papelinhos, escrever nas carteiras, nas batas”.
Já o docente de Práticas de Metodologia de História no Imne do Lobito, Ismael Andrade, considera que a forma como se elabora a prova e a característica da sala podem estimular o aluno a fazer a cábula. “Temos que culpar alguns professores que na elaboração das suas provas convidam os alunos a, em vez de puxarem pela cabeça, tirarem o recurso ilegal que trazem para tirar notas positivas, e a disposição da própria sala de aula. Se o professor não verificar as carteiras, se a sala não permitir que os alunos se sentem mais confortavelmente também facilita a cábula. E, por último, a forma de elaborar a prova, usando perguntas directas do princípio ao fim, o aluno fica preguiçoso”. Desafiado a deixar recomendações, Ismael não hesitou: “Provas bem elaboradas, professores actuantes e com sanções adequadas, acredito que por essa via a prática da cábula vai diminuir gradualmente das nossas escolas”.
O painel de convidados no estúdio constituiu-se de agentes com experiência na docência, entre eles os representantes do Ministério da Juventude e Desportos e o da Escola do segundo nível Luís Gomes Sambo.
No entender de Manuel Kavambi, docente do ensino médio e estudante universitário, “a cábula é um fenómeno social que ameaça o futuro de qualquer sociedade e nunca foi ajuda à memória. Antes de mais, no momento em que um estudante estiver a usar a cábula, ao invés de ajudar a memória estará a dispensá-la”, asseverou, para adiante considerar com ironia que cabular é só “um simples exercício de caligrafia.”
O educador social Manuel Rita Gaspar vê na cábula um fenómeno social que atinge todos os níveis de ensino e lamentou ainda a falta de uniformidade nos critérios de sanção, já que, referiu, cada escola age à sua maneira. “Porque há até alunos apanhados a fazerem cábula e tiveram um tratamento, mas outros noutra escola o tratamento foi diferente; só foram retiradas as folhas de provas e receberam outras para continuaram a fazer. Acho que isto não é correcto!”, condenou, sugerindo ao Ministério da Educação a estipulação de medidas disciplinares. “Eu penso que, quando se trata de escola, independentemente da entidade que a promove, a política de estado é tutelada pelo Ministério da Educação. Quer seja a escola da igreja, ONG, colégio, é o Estado quem deve meter a mão e solicitar essas forças vivas e traçarem mecanismos para actuarem neste sentido”, asseverou.
Entretanto quanto a sanções disciplinares, defendeu o representante do Minjud, Ndituavava Gonçalves, “elas estão regulamentadas. A aplicação é que não tem sido aquela. Existem escolas mais flexíveis. A questão só está aí e não na falta de medidas”.
António José, docente da escola do segundo nível “Luís Gomes Sambo”, contou que naquela instituição as crianças também já dão sinais de prática de cábula, embora sejam fáceis de detectar dada a pouca experiência, mas no ensino de adultos, o problema é mais sério. Por exemplo, como se vendiam folhas de prova com certa antecedência, estudantes há que traziam-nas já preenchidas com o que presumiam vir à prova e outros escrevem a matéria nas carteiras.
É caso para pensar: qual é o resultado de um médico que se formou no ciclo vicioso da cábula? De resto, a preocupação contra as fraudes nas provas não é recente. Pelo menos até finais de década de 80 os enunciados, a chave bem como as folhas de prova do segundo nível em diante eram trazidos ao recinto escolar por oficiais da Segurança do Estado devidamente uniformizados e identificados, sendo óbvio o clima de medo quanto a eventuais consequências. Se foi o método mais eficaz ou não, isso não é para aqui chamado. Entretanto, o que importa é ver que, como qualquer problema, mais do que dar relevância ao tratamento das consequências, no caso a sanção, impõe-se a adopção de medidas que visem tratar o problema a partir da sua origem, sendo a cábula uma questão de atitude.
Víctor Barbosa, por exemplo, que durante mais de 30 anos foi director de um Puniv, em Luanda, é de opinião que “a cábula resolve-se com muitos outros aspectos, não apenas com punição quando ela acontece. Temos que criar um ambiente escolar, menos alunos por professor, espaços que permitam os alunos questionarem o que estão a aprender e sentirem que todos os momentos em que estão na sala de aulas são momentos para porem à prova aquilo que sabem e não apenas no momento da prova. Acabar com o excesso de peso que se dá à prova”, o que, em sua análise, “várias vezes traumatiza também os próprios alunos e é necessário criar um ambiente de maior diálogo; e a democratização da escola podem contribuir para o combate à cábula”, acentuou aquele pedagogo assumidamente seguidor de Paulo Freire.
Fonte: Boletim "A Voz do Olho", Setembro /07 (AV-O/ Palmas da Paz)

Dê suas mãos às comunidades!

Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Ha...