segunda-feira, 28 de junho de 2010

Morte de Abílio Xavier enfraquece sociedade civil. Foi-se um dos exemplos de destaque na causa de pessoas com deficiência

Foi com pesar que a AJS tomou conhecimento da morte de Abílio Xavier "pai Abílio", ocorrida a 28/06/10, na Namíbia, onde se encontrava há alguns dias em tratamento médico. Estão em curso os procedimentos necessários para que seja enterrado na província de Benguela. Neste momento de consternação, desejamos à sua família, amigos e à sociedade civil a nossa solidariedade. Nas linhas que se seguem reiteramos a homenagem que de nós mereceu o colega Abílio

A rubrica “Nossa Homenagem - um reconhecimento às pessoas pelo seu exemplo de sucesso”, emitida a 17/02/2009, trouxe a história de um batalhador que se destaca pela integração social de pessoas com deficiência. Aos trinta e sete anos, Abílio Xavier, que tem paralisia dos membros inferiores, é chefe de família e representante de Organização Não Governamental.

«Eu nasci bem, adquiri a paralisia por causa da polio[mielite] aos dois anos. E desde que me conheci homem, então já convivi com deficiência», contou.

Mesmo havendo uma escola no seu bairro, Abílio só iniciou os estudos depois de completar dez anos. E explica: «Havia a dificuldade de ter alguém que pudesse apoiar, levar às costas até à escola. Então, aos dez anos, tive a felicidade de ter um triciclo. E com esse triciclo comecei a estudar. Mas infelizmente, depois de concluir essa fase do primário, já com as intenções de continuar o segundo nível, esse triciclo estraga. Foram mais uns dois (ou três) anos que tive de parar de estudar, até que conseguisse um outro».

Abílio não se esquece dos primeiros triciclos. «O primeiro triciclo, conseguimos por intermédio da Igreja Católica. Havia o padre António, e por intermédio dele conseguimos esse triciclo; o segundo, já foi a comprar. Mas, naquela altura, não existiam tantos quanto hoje», recordou.

Feito o ensino médio, Abílio queria frequentar a escola de professores do futuro, quando voltasse das férias. Foi nessa altura que, em Luanda, conheceu a (ONG angolana) Lardef - Liga de Apoio à (Re)Integração dos Deficientes. O regresso acabou por não acontecer. E, passado algum tempo, Abílio conheceu a vizinha, que hoje é sua esposa, e têm duas filhas. «Finais de 99, nos conhecemos porque morávamos na mesma rua. Éramos amigos e, depois, alguma coisa mais foi crescendo além dessa amizade», confessou.

No princípio, familiares da moça manifestaram rejeição, uma vez que o pretendente anda numa cadeira de rodas. E o casal teve que resistir para salvar a relação. «A luta maior existiu da parte dela, porque eram os seus familiares a tentarem romper com aquele relacionamento que nós tínhamos. Mas existiu uma força tenaz da parte dela para tentar contrapor aquela que era a vontade dos familiares em tentar separar aquela relação».

Fruto do seu empenho, Abílio Xavier, que entrou na Lardef como colaborador, fez história. Foi indicado para abrir a representação da província de Benguela.«Desde Fevereiro de 2004 viemos parar em Benguela. Primeiro, com um projecto que denominamos Dignidade. Porque havia a necessidade de expandirmos a Organização e, por meio desse projecto, haveria actividades a serem realizadas em Benguela até que encontrássemos objectivos concretos de se trabalhar cá».

Com isso surgiu um constrangimento. Abílio Xavier, que já andava no segundo ano da Universidade Agostinho Neto, viria interromper os estudos outra vez. «Posto em Benguela, infelizmente, as condições do núcleo de Direito não favorecem. Então, estou parado desde 2004», lamentou.

Palavras, como inserção social, advocacia, deficiência, discriminação, leis, acessibilidade, exclusão, tabu, e convivência, fazem parte do dia-a-dia de quem abraçou a causa. A mudança é um processo longo e complexo, mas Abílio indica já algo a ter em conta.

«O que queríamos agora levantar como positivo é, por exemplo, a questão de algumas pessoas estarem a perceber a necessidade de começar essa relação como relação de indivíduos que não têm diferença nenhuma. Isso é positivo e começa a dar às pessoas uma certa ousadia em querer afirmar-se na sociedade. Depois, há a questão de indivíduos que estão a estudar e defender teses, a mostrar que pessoas com deficiência podem defender teses», realçou.

Será que alguma vez pensou em desistir? «Nunca! Desde cedo, e aqui para tentar agradecer os pais – disse – que tenho, desde cedo, eles cultivaram que o homem tem que ser feito estudando», revelou Abílio Xavier, que hoje mora no bairro do Kioxe, em Benguela.
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Recorde-se que a rubrica “Nossa Homenagem” é oferta do programa de mesa redonda radiofónica, “Viver para Vencer”, uma produção da ONG angolana Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), às terças-feiras, das 17-18h30, através da Rádio Morena Comercial (97.5FM), cobrindo as cidades de Lobito, Benguela e Baia Farta.
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AJS – “A cidadania é resultado de um exercício permanente de Educação e Comunicação”.

4 comentários:

Angola Debates e Ideias- G. Patissa disse...

AX foi ontem (02/06/10) a enterrar no cemitério da Catumbela.

Anónimo disse...

Para se tirar o judo da situação em que se encontra, é necessário mudar-se o actual elenco da Federação Angolana de Judo, visto que o mesmo não está a dar conta da situação. Às vezes, parece-me que não estão interessados no judo.

Anónimo disse...

Neste momento, o judo está a atravessar um período muito triste da sua história. A modalidade tem no país uma única academia, a da Terra Nova, onde todos os clubes de Luanda treinam. É um espaço com falta de meios para se fazer um bom treinamento desportivo. O judo angolano está em risco de desaparecer e, se não se tomarem medidas pertinentes, vai morrer diante de todos.

Anónimo disse...

Desde que o actual elenco tomou conta da direcção da Federação de Judo, muitos atletas abandonam a modalidade por não haver uma política coerente ligada à formação. Existem muitas competições entre os juvenis e juniores, mas para os seniores, muitos dos quais em fim de carreira desportiva, não há competição. Isso reflecte a falta de interesse do presidente da Federação Angolana de Judo.

Dê suas mãos às comunidades!

Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Ha...