Uma lição de preservação de valores culturais através da oralidade, do canto, batuque e dança foi o que a nossa equipa testemunhou no passado dia 22/12, no Lar de idosos, ao Vale do Cavaco, em Benguela, ao cobrir a visita e oferta de bens de primeira necessidade pelo Grupo Teatral Juvenil Esplendor Magnético da Zona-A, Benguela. Os instrumentos musicais acústicos da Terra, à disposição no local, que não nos deixem mentir.
Segundo a Responsável do Lar de idosos, Cecília Muhona, o Beiral de Benguela existe desde 1972 e alberga 85 utentes, mais cinco do que a sua capacidade. Muitos dos idosos são também portadores de deficiência. São velhos de diferentes origens, mas com algo em comum: nenhum foi ao Beiral por vontade própria. «Uns através das igrejas, vizinhos, administrações de zonas e, outros, pelos familiares, que deixaram os seus papás nos nossos portões e nós acolhemos», revelou a Responsável.
Se um velho é biblioteca viva, podemos considerar a nossa como uma sociedade que queima os seus livros, atendendo aos imensos relatos, tristes geralmente, sobre a exclusão familiar de que muitos são vítimas na terceira idade. Os lares ou centros, às vezes, não passam de locais para confinar gente julgada “inútil” pelos próprios descendentes.
Mas o que a nossa equipa de repórteres, constituída por Florentino Calei e Raimundo Bambi, constatou ao cobrir a visita do Grupo Esplendor Magnético ao Beiral do Cavaco contraria a tendência viciosa que publicita centros de idosos como “vaso” para depositar caridade logística, onde os residentes são passivos receptores.
Não ignorando as necessidades básicas com vestuário e alimentação, sugerimos sim um outro tipo de abordagem, já que os mais velhos têm também muito, mas muito mesmo a dar. Com a inserção das línguas nacionais no sistema de ensino, por exemplo, que tal estabelecer programas de intercâmbio extra-escolar com alunos? Porque quem pensa que um beiral é local monótono e que velhos afastados do ambiente familiar são inúteis, engana-se redondamente.
Em termos de políticas de estado, o referido Centro é tutelado pela Direcção Provincial da Família, Assistência Social e Antigos Combatentes (Fasac).
O Esplendor Magnético surgiu há sete anos, sob influência de um Padre da Paróquia de Santo Estêvão, ao bairro da Lixeira, cidade de Benguela, que via no teatro uma forma de educação juvenil. Vencedor do Prémio Provincial de Teatro em 2000, o Grupo é pela solidariedade e tem 25 jovens, alguns dos quais com interesse pela criação musical.
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