quarta-feira, 20 de maio de 2020

Kota Zé e a Vida


Enquanto distribuíamos kits alimentares providenciados pela administração da Catumbela, nas periferias fronteiriças entre o Lobito e a Catumbela, encontramos o senhor Zé Maria que vendia tudo do nada que tinha. Obviamente nos sensibilizou e não resistimos à necessidade de deixar com ele um kit, mesmo não fazendo parte do cadastro das famílias vulneráveis.

Podemos concordar que fé e esperança podem manter viva a alma, mas resistir à fome é para além de mental, um exercício físico. Daí que contam os dias para um ser vivo manter-se sem alguma alimentação, aliás, até porque para se alimentar precisa-se engenhar estratégias de aquisição dos alimentos. Alguns o chamam emprego, outros fonte de receitas ou negócios, mas na verdade todo mundo trabalha, pelo menos.


A vontade de trabalhar, que nos parece natural ao ser vivo, impele-nos a labuta, não é à toa que nos mandaram ter com a Formiga para algumas aulas de organização do trabalho, e também sentenciados com as seguintes palavras: “do suor do teu rosto comerás pão...”

Talvez seja essa sentença que desestimula Zé Maria com as suas mais de sete dezenas de anos vividas, por enquanto, a não enveredar em caminhos menos dígnos para encontrar o que comer, sujeitando-se à venda de tudo do nada que tem.

Imagine em pleno século XXI alguém produzindo adobes para vendê-los em zonas urbanizadas. Ele está trabalhar, mas em algo que não tem clientes nas zonas urbanas há mais de duas décadas. É um negócio do outro século para uma certa elite. Sim, o kota Zé Maria vende artigos do século passado e desconhecidos pela maioria dos consumidores impulsivos dos dias de hoje. Entanto fazia parte dos produtos à vendas na bancada do kota Zé cassetes vídeo que funcionam apenas num deck ou leitor VHS, hoje, substituídas por discos compactos e seus respectivos leitores VCD, DVD, sem nos esquecermos dos vários periféricos digitais para vídeos e áudios que a informática proporciona. Quem mais compraria uma cassete vídeo? Entenda-se aqui que naquele momento ele vendia tudo do nada que tinha, pois a esperança e a fé se encarregariam do resto. O resto pode ser a comida para o seu jantar logo mais.
Angolanos e angolanas na condição do kota Zé há em números grandes e espalhados por essa Angola. Estamos entre os 12 e 13 milhões de angolanos vivendo uma pobreza extrema.


O projecto "Eka lietu vo mbala" da AJS e parceiros já cadastrou o kota Zé Maria para constar entre as quinhentas famílias que se beneficiarão da assistência social e humanitária, residentes nos bairros periféricos do Lobito e da Catumbela. E você pode ser o financiador de uma dessas famílias através da sua doação de bens ao banco alimentar. Conheça mais do projecto! 

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