A notícia sobre a existência de um vírus sem controlo
tecnologicamente possível e muito letal à vida humana espalha-se pelo mundo
todo. Igual a galinha que “grão a grão enche o papo”, o vírus chinês, que por
conta da OMS passou a ser conhecido oficialmente por novo coronavírus,
causadora da COVID, manifesta-se inicialmente na China em finais de 2019 e, em
menos de mês toma conta de mais países na Europa. Mais um país na América, outro
em África e mais uns tantos e tantos a uma velocidade rápida, o mundo todo se
infecta do vírus e consequentemente as suas mortes em números assustadores.
O mundo se recolhe. E enquanto se pensa na cura do “inimigo
invisível” como passou a ser estranhamente chamado, entre as soluções emergentes
para diminuir os estragos mortais da COVID – 19, os países começam a cancelar
os contactos com a raiz da pandemia, a China. Afinal já é tarde demais, e
porque não são só os chineses que andam, cada país começa a recolher os seus de
lá onde se encontravam, China, Cochinchina e tudo mais.
Para muitos países o Estado de Emergência é convocado bem às
pressas para afigurar à lista de soluções do combate à COVID – 19, um pouco
depois da implementação estratégica por algumas nações da chamada quarentena
que para uns, também quarentona. Mais no bom português falado e escrito ao
rigor é mesmo QUARENTENA. E como a culpa não morre só, a quarentena pariu a
imperativa medidas e orientações de segurança preventiva #Ficaemcasa(campanha
fica em casa). Também por orientação
médica, a lavagem constante das mãos com água e sabão, a eliminação dos beijos,
abraços e visitas, tal quanto o distanciamento entre pessoas com um limite
mínimo de metro, passaram, por recomendação, a fazer parte da dieta do dia a dia,
enquanto formas de evitar, principalmente, o contágio comunitário da pandemia.
Portanto, o Estado de Emergência é definitivamente o grande
remédio para levar cidadãos e cidadãs à observação e cumprimento das orientações
médicas. Por isso, em Angola, o Presidente da República através de um decreto, anuncia
a entrada em vigor do Estado de Emergência com as suas medidas de restrições.
Competência sua ou não, mas a verdade é que foi o PR a decretá-lo.
Compreendido por uns, ignorado por outros, o Estado de
Emergência e as suas restrições deixou a céu aberto um conjunto de realidades pouco
esperadas: que não devíamos nos mentir, África não é Europa e por isso, as
medidas restritivas adoptadas deviam ser bem pensadas e não imitadas; também
deu para perceber que afinal o Estado angolano não é um Estado de providência,
pois na hora da providência tudo ficou escuro; ainda constatou-se que a
economia angolana e a situação social dos angolanos estão significativamente
dependentes do mercado paralelo; novidade ou não, no entanto, grande número dos
angolanos e angolanas vive no limite da extrema pobreza, pois garantem a
refeição do dia no mesmo dia; a comunicação social faz um excelente trabalho de
sensibilização através de vários meios de comunicação, entretanto há um grupo
da sociedade voluntariamente excluído por falta de condições, só para citar
algumas realidades. Mas uma reflexão sobre a gravidade da vulnerabilidade
social de muitas famílias angolanas pode estar associada à imagem real do
estado de saúde mental dos os angolanos.
Na campanha de sensibilização e moblização das comunidades
sobre as medidas de prevenção de combate à COVID - 19 desenvolvida pelas
Organizações Não Governamentais, AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) e
a Associação Omunga, nos municípios do Lobito e da Catumbela, foi possível encarar
a realidade de muitas famílias a viverem em zonas com difícil acesso à água
corrente e luz eléctrica. Uma chefe de família disse que - “aqui no Alto Vikundu a bacia de água custa 100,00 kz. Uma água que
só vai aí ter às custas de camiões com cisternas.
Uma outra realidade muito comum em outras famílias foi constatar que seus responsáveis enfrentam doenças crônicas. Por exemplo, uma família de onze membros encontra-se reduzida a três, sendo que oito deles faleceram de tuberculose entre o ano passado e o corrente. A mesma doença continua a afligir os restantes membros da mesma família. Uma senhora na casa dos 60 que depende da revenda de hortícolas sustenta cinco netos e duas filhas. Entre os netos da anciã, dois têm acesso à escola e um entre os restantes três sofre de perturbações mentais e é paraplégico.
Na verdade cada família com seus problemas característicos,
que os tornam socialmente vulnerável.
Na senda da campanha de sensibilização, a AJS encaminhou
para as administrações do Lobito e da Catumbela listas com um total de 131
famílias identificadas em situação de vulnerabilidade social extrema. Aliás,
essa realidade talvez seja a constatação real daqueles dados tornados públicos
pelo Instituto Nacional de Estatística que atesta que de 2018 á 2019, 42% da
população angolana vivia em extrema pobreza, isto está perto de 12 á 13 milhões
de angolanos. Não é difícil imaginar
como a entrada em vigor do Estado de Emergência terá aumentado
consideravelmente a pobreza em muitas famílias angolanas, obviamente, para quem
garante a comida no mesmo dia, encontra uma série de dificuldades. Certa
moradora disse: – mas é como tudo, ou
saímos para procurar comida e morremos com a doença ou ficamos em casa fugindo
a doença e morremos de fome, a decisão é alheia.
E para lá ficam as questões que não se calam dentro de
muitos: mas afinal de quem é a responsabilidade? O programa de combate a
pobreza serve pra quê? Atende quais populações?
Facto é que algumas famílias fazem apenas uma refeição por
dia, que já não é uma refeição como tal. Mas é o que podem.
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