As mais de sete dezenas de mortes assistidas no dia 11 de
Março de 2015, nas cidades do Lobito e da Catumbela, causadas por fortes correntes
de águas[chuvas] que arrastaram naquela mesma noite várias casas situadas junto
dos condutores e colectores naturais das águas das chuvas, cujas culpas foram imputadas
aos próprios mortos pelas Administrações Municipais, continuam, cinco anos
depois, a atormentar os sobreviventes daquele trágico incidente.
O argumento de que as populações terão construído ao longo
do tempo em zonas de riscos (ZR), talvez tenha servido de balsamo para os gestores
públicos, entretanto, pouco se fez para mitigar tal realidade. Até parece que se
espera que passe meio século para que se torne um facto cientificamente
histórico, e dele retirarem as lições necessárias à aprendizagem, pois se diz
por aí que “um povo que não conhece a sua história está condenado a repetir
seus erros”. Mas é também verdade que o tempo não espera pelos pressupostos
científicos e por isso, a vivência acompanha a dinâmica do mesmo.
A construção em Zonas de Riscos tornou-se polêmica, gerou
debates, discriminou munícipes.
Acredita-se que tal situação tenha até feito
doentes, mas responsabilização para as Administrações, organismos que têm o
poder de conceder terrenos, fiscalizá-los e tudo mais, niente! Portanto, a imunidade que assiste às
instituições estatais e seus respectivos gestores, mesmo quando detratam e
atropelam o interesse público, não permite “melhorar o que está bem e corrigir
o que está mal”. Tal é facto que, ainda assiste-se hoje, a Administração do
Municipal do Lobito a desenvolver obras em Zona de Risco para a implantação do
novo mercado informal.
Em decorrência do Estado de Emergência, na sua primeira
fase, a Administração Local destruiu dois mercados de referência, o Chapanguele,
que faz a fronteira entre as partes baixa e alta da cidade que por sinal é o
maior entre todos e o Compão, situado bem no centro da cidade. Na escassez de
espaços vagos, a Administração indicou um terreno baldio situado no bairro do
São João do Lobito. Porém, o bairro São João já não tem a sua estrada, parte do
troço Africano – Catumbela, há mais de vinte anos. O terreno em entulho para o
respectivo mercado está a ser feito na zona onde se recolhem as águas das
chuvas que vêm da zona alta da cidade e que ao longo da história de vida do São
João, acabaram soterrando parte das residências e estabelecimentos comerciais
por lá existentes. Portanto, a viabilidade do terreno da nova praça pode até
ser política, mas representa um risco econômico, financeiro, social, geográfico
e demográfico.
Ainda vamos só proteger as vidas das pessoas prevenindo-as do mal, afinal
gerir também é prever, né!
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