sexta-feira, 12 de junho de 2020

O jovem de manhã está na criança de hoje


O dia a dia de todos nós ganhou uma nova imagem, crianças deambulando de um lado ao outro não apenas nas ruas do centro da cidade, mas também nas ruelas dos bairros da periferia da cidade. O número é cada vez crescente.

Procurando o quê? Latas, arames de metal, retalhos de tecidos ou caixas de papelão para exercitarem a sua inteligência artística, como foi durante a infância de muitos entre nós?

Apesar das lojas do povo nos dias do partido único, os brinquedos não eram para todos do povo, ou seja, de tão escassos, apenas serviam para a decoração das salas de estar. Mas, no entanto, a natureza da brincadeira na criança não esperava pelos brinquedos das lojas do povo, aliás, os mesmo também somente chegavam ás vésperas do natal. E parecendo que não, quanto mais distante do mar se estava, mais lunático era o sonho do brinquedo industrializado.

A criatividade levava as crianças na procura, onde quer que fosse, de vários objectos para serem transformados em brinquedos de carros de latas e de fios, bonecas de panos, casas de barro, arcos de jantes e tanto outros. Era sim, o motivo da criançada nas ruas.

Diferente do ontem do partido único, hoje, há mais crianças nas ruas, até porque a população angolana cresceu, mas não é a procura de meios para criarem brinquedos. As crianças estão nas ruas a venderem tomate, cebola, pimenta, feijão e muito mais. Elas cruzam bairros, escalam montanhas, esquivam carros e enfrentam assaltantes. Quantos quilômetros elas percorrem ao dia?

Como cresce o número de crianças nesse trabalho que explora a infância das mesmas, reflectir sobre a situação econômica e financeira dos lares angolanos deve ser o exercício constante entre os governantes e os súbditos do governo.

Visualize a seguinte realidade angolana: os acidentes rodoviários são a segunda maior causa das mortes. Pelo que se sabe, maior parte da população angolana é jovem, naturalmente uma maioria economicamente activa e que é utente das estradas, por isso, não é difícil calcular que um grande número de jovens está a morrer nas estradas de Angola, provavelmente a procura de garantir o pão de cada dia. Portanto, talvez haja muita criança no trabalho de venda ambulante que viva sem seu pai ou sua mãe, senão mesmo sem os dois progenitores.

O trabalho infantil está a tomar proporções incontornáveis aos olhos de muita gente boa!   



   


Texto: Lofa Kakumba 
 Foto: Dino Calei

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